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segunda-feira, 13 de julho de 2009

E o teu medo de ter medo de ter medo




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Na música: Daniel na Cova dos Leões (Renato Russo & Renato Rocha).

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quando era um pouco mais jovem...

- Vamos civilizar o mundo! - dizia meu pai com a ironia que sempre lhe fora peculiar, enquanto ia pondo um vinil de música erudita na vitrola.

Meu dia começava assim, aos domingos...

Das nove da manhã até às três da tarde, abríamos as portas de casa para que adentrasse uma plêiade de ilustres visitantes: Vivaldi, Bach, Corelli, Schumann, Berlioz, Grieg, Villa-Lobos, Beethoven, Schubert, Mozart, Mendelsohn, Haydn, Haendel, Tchaikovsky, Strauss, Dvořák, Debussy, Liszt, Torelli, Mussorgsky e tantos outros.

Para mim, a nossa sala de estar ganhava as dimensões dum salão de festas palaciano, todavia, sem a presença vaidosa e inconveniente de "nobres" e de intelectuais que costumavam, e até hoje assim o fazem, amontoar-se onde se ouve boa música.

Quando a agulha nos discos tombava, as sinfonias, os concertos, as árias, os corais, as suítes, as valsas e os minuetos exalavam por todo ambiente sua grandeza e graciosidade. Falavam conosco, os compositores, de espírito para espírito, sobre o melhor da Natureza - o que incluia o homem, evidentemente.

Por entre allegros, largos, andantes, adágios e prestos, as obras sucediam-se cronologicamente: Barroco, Classicismo, Romantismo... dando sentido àquela aventura musical.

Cada uma dessas épocas fazia emergir a sua cota de imagens em minha tela mental, trazendo-me uma gama imensa de emoções e sentimentos indescritíveis. É próprio da música instrumental essa magnífica arte do "nada impôr, apenas sugerir"; de modo que, para cada nova audição, uma nova realidade, porquanto vamos morrendo e ressurgindo nos segundos que não cessam...

Elas, as melodias, traziam-me a união com o divino, as nuances da vida urbana, o amor impossível, o calor causticante do deserto, o sopro do vento campestre, o azul do mar e sua arrebentação, o tédio e a melancolia, o irromper do trovão, o martírio do herói, a chuva suave, os perfumes da primavera, a passagem do tempo, o frio invernal, o canto dos pássaros, a alegria dos camponeses após a colheita, a paixão pela pátria, o pôr-do-sol no outono, a solidão, a saudade, a liberdade... e muito mais! Sempre mais...

Ainda continuo percebendo situações sentimentais novas quando as ouço...

Um dos momentos inesquecíveis nesses nossos encontros era quando se fazia sentir a presença do compositor polonês, Frédéric Chopin (1810-1849).

Poderia passar o resto da noite (e a madrugada inteira) adjetivando positivamente a obra desse mestre e, mesmo assim, além de não ser suficiente, tudo isso não acarretar qualquer significado para quem lê estas linhas (o açúcar é doce, mas apenas chegamos a essa conclusão quando o experimentamos...). Melhor que falar da música é vivê-la:

A razão de postar esse vídeo foi porque, dentre outras versões que escutei até o presente instante, essa interpretação é a que mais se aproxima daquela outra que ouvi, quando era um pouco mais jovem...

*   *   *  

São atribuídas a Joseph Haydn (1732-1809), compositor do período denominado Classicismo, as seguintes palavras: "Muitas vezes - lutando contra obstáculos de toda ordem, ou sentindo minhas forças falharem e acreditando difícil perserverar no caminho escolhido - um secreto sentimento murmurava dentro de mim: 'existem poucas pessoas contentes e felizes aqui na Terra; talvez, teu trabalho possa, um dia, ser a fonte onde os fracos, abatidos e sobrecarregados encontrem alguns momentos de repouso e bem-estar'".

Passados duzentos anos da morte desse notável músico, digo-lhes que, na minha pessoa, o "talvez" dessa voz sublime, transformou-se em certeza...

terça-feira, 7 de julho de 2009

Autofagia


É nele que me consumo,
Neste prato de solidão,
Minguando com a Lua,
No assobio do ibijaú,
A buscar inspiração...

Abraço esse sumiço,
Até a alvorada chegar,
 E deixo de ser gente,
Fico de um jeito diferente,
Que nem consigo me enxergar!

Então, renasço como palavra,
Nas letras de amor ou dor,
Sem saber onde estou,
E muito menos quem sou,
Nem voltando a ser quem era,
Ainda que me olhe o leitor...


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nada Sei


No vídeo: Nada Sei (Apnéia) - Kid Abelha Acústico MTv, composição de George Israel e Paula Toller.

Manhã Chuvosa


Ontem, vi uma lágrima cristalina rolando mansa em teu rosto.

Desceu lenta, triste e graciosa e perdeu-se na palma de minha mão...

Mais uma, duas, três lágrimas... e foram todas fazer moradia num dos recantos de minh'alma, por entre teus soluços - cantos mudos de teu coração.

Gentilmente, toquei a tua rubra face, escondida por entre a maciez de teus longos cabelos, procurando, comovido, o teu olhar.

Beijei com ternura teus lindos olhos marejados, experimentando o gosto do teu ser que me molhou de amor.

Percorri com meus lábios, umedecidos pelo teu pranto, os caminhos por ele marcados. Alcancei a tua insinuante boca entreaberta, a tempo de ouvi-la sussurrar o meu nome.

Segurei tua mão, levando-a ao encontro de meu peito louco palpitante para, finalmente, trazer-te toda por inteiro, até desaparcermos, inseparáveis, no acalento de um abraço.

E aquele sabor de lágrima, da tua alma, nunca mais saiu de mim...


sábado, 4 de julho de 2009

Derrubando minha torre: não quero pedras ao meu redor



All Along the Watchtower

(Composição: Bob Dylan / interpretação: Jimi Hendrix)

There must be some kind of way out of here,
said the joker to the thief
theres too much confusion,
I cant get no relief.

Business men they drink my wine,
plow men dig my Earth,
none with a level on their mind,
nobody out of this world.

No reason to get excited,
the thief he kindly spoke,
there are many here among us,
who think that life is but a joke,
but you and I, we've been through that,
and this is not our fate,
so let stop talking falsely now,
the hour is getting late.

All along the watchtower,
princes kept the view,
while all the women came and went,
barefoot servants too.

Outside in the cold distance,
a wild cat did growl,
two riders were approaching,
and the wind began to howl.

All along the tower,
everywhere,

everywhere I went...


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Na imagem: arcano XVI - The Tower, tarot Rider-Waite, ilustrado pela artista Pamela Colman Smith.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Adeus Incerteza


Desisti da incerteza que leva o teu nome.

Desisti de tudo aquilo que me deixou perdido nesta zona cinzenta entre o sonho e o despertar. Nesse lugar em que nada se realiza, mas tudo é possível: e são apenas possibilidades...

Estou tão cansado... Cansado de andar por entre minhas crenças a teu respeito. Cansado de caminhar por entre tuas hesitações espinhosas que me feriram incontáveis vezes... Ah! Como acreditei, nas madrugadas insones, que tu virias quando soubeste que eu te amava...

Andei tanto, por tantos mundos de tantas fantasias... Foram tantas as trilhas, traçadas com lápis de grafite, a espera das cores que nunca vieram - aquarela que nunca pintou um quadro nosso.

A espera pelo teu amor, sem saber se o teria, não trouxe sabor, muito menos cor, à minha vida.

Tudo ficou para um depois muito distante, que pode nunca acontecer, e a dúvida quando se demora num coração torna a esperança insepulta, aumentando, inconseqüente, a sofreguidão...

Impreciso o teu amor por mim, já não preciso mais dele. Hoje, deixo tão somente contigo, em teu nome, toda a incerteza.