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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Devaneios


Diariamente, a caminho do trabalho, dou-me conta, entediado, de quão célere passa a vida do lado de fora e como toda essa pressa, recheada de monotonia, nunca me interessou.

O caos da capital se acostumou, de forma quase sádica, a torturar minha paciência no trânsito barulhento. Duas horas de viagem, entrecortada por engarrafamentos, faz qualquer alma urbana desejar com veemência uma carta de alforria.

Mas, para minha felicidade, sem burocracia de qualquer espécie, sempre obtive essa justa documentação. Basta-me apenas, dentro dos coletivos que tomo, a rendição pacífica aos meus devaneios.

Essa conquistada liberdade, ainda que provisória, leva-me de um lado a outro da realidade. Portas são abertas e fechadas, vagarosamente, dentro de mim; janelas imaginárias revelam, de maneira incomum, o que há ao meu redor. Pululam em minha tela mental, sem impedimentos, lembranças, emoções soltas e pensamentos, muitas vezes, desconexos, numa tranqüila produção aleatória do espírito.

Nesse suave agito de asas surreais, acabo pairando acima das aflições imediatistas e abarco, oportunamente, de relance, boa parte do meu mundo íntimo num único olhar...

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Na imagem: "La grande famille" (1963), by René Magritte.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pra Ser Sincero

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tema De Uma Cor Solitária



Dia de chuva. Dia cinzento.

Dia em que o céu fica igual ao pavimento das avenidas; ao cimento dos prédios e dos monumentos; igual às calçadas e seus postes; igual à fumaça dos motores.

Tudo desaparecia pouco a pouco no avançar das horas, numa mistura heterogênea das nuanças de uma única cor.

Não havia mais quem discernisse em que ponto terminava a terra e começava o céu...

Perguntei-me se andávamos de cabeça para baixo pela cidade, com os pés em nuvens de asfalto ou se voávamos simplesmente por um concreto celestial. Ora tudo parecia certo, definido em seus devidos lugares. Ora, num piscar de olhos, tudo conseguia ser idêntico, sem linhas, nem fronteiras.

E o Sol modelava esse dégradé que começava por entre as nuvens e estendia-se até um lugar infinito, desconhecido, aqui, bem dentro de mim...

O mesmo Sol que nos fazia sumir com a fuga de suas luzes no fim do dia.

Um dia cinzento de chuva, no qual tudo cabia e perdia-se numa única cor.

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Na imagem: "Chuva" - photo by Gabriel Fernandes.

Atribuição 2.0 Genérica
(CC BY-SA 2.0)