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sábado, 31 de janeiro de 2009

Elegância

A verdadeira elegância nasce espontânea, pois que é fruto da nobreza de caráter, sem afetação, que encontrou moradia num coração amadurecido pelas experiências da vida.

Não há fórmula externa para sua conquista. Roupas, perfumes, cosméticos, não conseguem mascarar a verdade subjacente de quem não possui essa qualidade. Basta, muitas vezes, uma simples contrariedade, para que todo o verniz, que lustrava a mera aparência, escorra e revele o quão fosca pode estar uma alma vazia de virtude.

Ser elegante é muito mais do que expressar um andar gracioso, gesticular cuidadosamente, apresentar boas maneiras à mesa, vestir o figurino mais atual...

Ser elegante passa pela auto-estima nascida de um amor real por si mesmo, auto-suficiente, e não a pseudo-auto-estima alicerçada na vaidade gerada por um ego infantil.

Não se compra a verdadeira elegância, ela é conquistada dia após dia, e independe do status social, como poderiam pretender...

Curiosamente, os elementos que mais dão elegância à vida de um ser humano, hoje em dia, são tidos como algo démodé: gentileza, respeito, confiança, paciência...

A moda se refaz às custas da necessidade. O superficial, de mãos dadas com o supérfluo, conquista o sonho e a imaginação ingênuos. Os valores são invertidos. Aquilo que é inadequado, impróprio, sem sentido, transforma-se na oportunidade de ser aceito por um grupo de pessoas que violentam seus gostos, seus modos saudáveis de ser; que perderam a individualidade e um pouco mais de suas já minguadas liberdades...

Nesse frenesi de ilusões, onde a utilidade é virada pelo avesso, sacrifica-se a elegância no altar das aparências. Imprestáveis, novos paradigmas surgem, cobrando bolsos (e indivíduos) vazios. Modificam seus preços, num ritmo tão célere, que nem sempre o dinheiro pode comprar (para desespero de alguns).

A verdadeira elegância não é beleza transitória, um mero ornamento, e nem se deixa corromper pelo modismo da ocasião. Nada esconde. Revela. É verdade imperecível da alma. Nunca morre. Transforma-se, podendo ser aperfeiçoada.

Traço sublime duma alma elevada, a elegância, sempre poderá ser encontrada em algum lugar do mundo íntimo daquele indivíduo que permite a si mesmo, incondicionalmente, o ato de amar.

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Na imagem: Clarice Lispector

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Conhecendo o que nos mata

Quando li o texto "Não tem graça...", de Sheila, lembrei-me duma rápida pesquisa que fiz, há um mês atrás, sobre o tabaco e sua fumaça, mormente no aspecto quantitativo.

De acordo com João Ferreira Galvão et al. (2008) tudo aquilo que o tabaco traz em sua intimidade é resultante das características do local de seu cultivo, bem como da forma como fora secado e armazenado. Em decorrência dessas circunstâncias, a quantidade de substâncias encontradas nele pode chegar a 500. Quando queimado, esse número se eleva a 4.720 (!!!).

Isso ocorre porque, na queima do tabaco, duas reações são desencadeadas: a pirólise (na qual alguns componentes sofrem decomposição térmica, formando moléculas menores) e a pirossíntese (as moléculas fracionadas recombinam-se construindo novos componentes).

A fumaça do cigarro é oriunda da combustão incompleta do tabaco (a completa acontece apenas em brasa, onde as temperaturas chegam aos 850 °C).

A química dessa fumaça depende dos seguintes fatores:

- Qualidade do tabaco;
- Modo de embalagem;
- Tipo de filtro e do papel;
- Temperatura de queima;
- Modo de fumar.

Durante o consumo de um cigarro, a liberação dessa fumaça apresenta duas fases distintas: uma gasosa (que acomete o fumante ativo) e a particulada (que gera os fumantes passivos e o "fumo de terceira mão").

A primeira fase, a gasosa (gases e vapores formados na pirossíntese e pirólise), advém do ato de tragar e se produz em temperaturas elevadas. A fase particulada (substâncias voláteis, dispersas em aerossol), por sua vez, acontece em temperaturas mais baixas, durante a queima lenta do cigarro, entre as tragadas.

Ao fumar um cigarro, uma pessoa consome cerca de 1.012 partículas. Para efeitos de comparação, a poluição dos centros urbanos atinge 106 partículas por ml, nas mais altas concentrações.

Alguém poderia perguntar: mas o cigarro não possui filtro? Possui. Mas, é preciso dizer que, embora os filtros mais potentes consigam obter uma margem de retenção de cerca de 99%, devemos levar em consideração o tamanho da partícula filtrada. Esse percentual é alcançado somente quando o tamanho da partícula é igual ou superior a 0,3 micrômetros. Portanto, abaixo disso, os filtros não funcionam...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Brueghel, O Velho

Quando menino, bem pequeno mesmo, fiquei impressionado com duas pinturas que havia aqui em casa.

Eram, na verdade, cópias pequenas, emolduradas com muita simplicidade. Sobre ambas, uma fina proteção de vidro lhes dava um aspecto de integridade, como se quisesse conferir-lhes brilho e valor.

Ficavam dependuradas num pequeno corredor, em local estratégico. Impossível quem não as visse, ainda que de relance, todos os dias.

Nunca me interessei em saber onde, de que modo e com quem meus pais adquiriram essas peças. Meu interesse era tão somente pelas imagens gravadas, suas cores e traços bem marcantes, bem como pelas histórias que elas pareciam querer me contar.

Vez por outra, segurava um destes quadros e me perdia num mundo de imaginação: conseguia vislumbrar a alegria e a dança dos camponeses medievais; forjava diálogos entre eles e os soldados; e ficava querendo juntar as duas imagens para criar uma única vila...

Eram cópias aparentes, porém, para mim, transformavam-se em realidades que saltavam vivazes diante de meus olhos, envolvendo-me como se lá estivesse.

E estava...

Mais tarde, por meio da coleção intitulada "O Mundo da Criança", tomei conhecimento de que os conteúdos desses quadros não passavam de meras imitações de duas obras dum grande pintor flamengo, que viveu século XVI, chamado Pieter Brueghel (1525/30 - 1569).

Dizem que Brueghel recusava-se a pintar quadros e retratos para igrejas, contrariando prática comum daquela época. As cenas do cotidiano medievo despertavam-lhe maior interesse.

Observando suas obras, percebemos também a paixão que possuía pelas paisagens celestiais tempestuosas, montanhas alcantiladas, árvores desnudas, neve abundante, campinas verdejantes que cintilam em tempos primaveris...

Sua arte toma forma e ganha relevo por meio de cores radiantes, figuras humanas repletas de vitalidade e cenários majestosos.

Hoje, Brueghel pode ser encontrado em galerias de museus situados em Washington, Detroit e Nova Iorque (como exemplo, o Metropolitan Museum of Art).


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Atualizando (09/06/2010):

Antes, havia colocado como background deste blog, quando o mesmo se chamava "Servo da Gleba", uma imagem que era uma singela homenagem de minha parte a esse grande pintor. A obra escolhida: The Corn Harvest (August)1565 que pode ser vista aqui.