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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Feliz" Ano Novo



Agora, penso sobre esta tão falada e idolatrada "Prosperidade" que percorre, há muito, os tortuosos trilhos dos enganos humanos...

Ela é o fruto desse mesmo progresso, de "uma única asa", que atravessa a pleno vapor os prados cinzentos, já sem vida, outrora verdejantes, dos nossos corações, arrancando-nos um fascínio doentio: sorrisos reptis e olhares vitrificados de pura alienação.


À maneira duma sereia, a abundância gerada as custas do sangue de milhões de explorados, embala com seu canto o nosso conforto comodista para, logo em seguida, arrastar-nos, impiedosa, até os pontiagudos recifes da imprevidência.

Esta prosperidade, solta e louca, nas mãos de tão poucos, movimenta o frio maquinário da cobiça, tal qual maquinista a conduzir insandecido uma locomotiva que cospe, em jorros, fumaça negra com odor de ganância. Carrega em seus vagões repletos de soja, aço, carvão, urânio, petróleo e sílica - num moto quase contínuo - o combustível do vai-e-vem famélico da insaciável quimera chamada "Consumismo".

Sepultando nossas almas nos túmulos da egolatria, sob o mármore da vaidade, a punjança dessa minoria impõe-nos regras de conduta sob o guante do materialismo ardiloso. E modela, amparada pela publicidade voraz, as mentes subjugadas pelo vazio do modismo, como se conferisse a elas a forma dum recipiente de plástico descartável ordinário, de colorido displicente.

Equipado, o comboio, em sua vanguarda, com o imenso rolo compressor da corrupção, vai esmagando em seu caminho aqueles menos favorecidos, deserdados da Justiça e do Bem Comum.

Imperfeito, ergue-se o desenvolvimento no horizonte da humanidade, como um Sol eclipsado, por intermédio de políticas levianas oriundas do contubérnio subjacente das grandes corporações . Essas mesmas políticas que, no terreno fértil da ignorância, promovem opressões de natureza ideológica e financeira, quebrando vontades e dissolvendo culturas em pedaços que se segregam e se estratificam, cada vez mais, em fragmentos diminutos, até desaparecerem, por completo, nos ódios das guerras fratricidas.

Com seu apito de bronze, de som estridente - semelhante a um grito humano de agonia -, em linhas férreas de traçado inconstante, corre vertiginoso o trem da nossa "Prosperidade". Mais célere do que a nossa Natureza pode suportar.

Acelera, então, a cada segundo, a germinação do sogo transgênico nos campos; a fermentação alcoólica dos engenhos; a partição atômica nas usinas nucleares; o erguimento dos arranha-céus nas esquinas; o parto dos bovinos nos currais; as oscilações luminosas da energia nas fibras ópticas; o tráfego das informações internáuticas, às custas dos corações ansiosos nos centros de compras... 

* * *

Ainda que nem sempre nela pense, ainda que me esqueça - quase sempre - das suas mãos onipresentes, ela sempre me olha, me procura e me deseja...

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