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domingo, 26 de abril de 2009

Novo Fruto

Enquanto ela ouvia sua amiga, cheguei silencioso e travesso por detrás e, carinhosamente, retirei o ornamento de madeira que prendia seus cabelos castanhos.

Observei, encantado, como eles se desmanchavam em beleza e comprimento, até alguns centímetros além de seus ombros morenos...

*  *  *

Hoje de manhã, aquela menina estava diferente. Não eram meus olhos que me diziam, mas o lindo sorriso que ela me endereçou, momentos antes da aula começar.

Conversávamos animadamente, com outros colegas, trocando algumas impressões sobre as mensagens postadas em nosso grupo de estudos virtuais, quando não pude deixar de percebê-la mais alegre e bonita.

Dei com os ombros, e nem me importei de pronto com que vi, mas, sem notar já era um pássaro cativo na gaiola das emoções... A cor de sua pele, o seu olhar (inteligente e ao mesmo tempo ingênuo), o timbre de sua voz, o jeito de quem "vive no mundo da Lua" e ao mesmo tempo determinado, firme...

E minha cabeça foi ficando plena, apenas com ela.

Consegui, com certo esforço, assistir a aula que foi muito divertida por sinal (como sempre costuma ser), embora uma supervisora japonesa estivesse presente, avaliando, muito séria e atenta, a turma e a nossa "sensee".

Ao término da aula, compartilhamos nossos e-mails, para aprimorarmos a conversação no idioma via MSN e nos conhecermos melhor.

Eu e ela só nos veremos agora no próximo final de semana... Oxalá, possamos nos encontrar antes, no virtual...

A semana será longa, quiçá plena de incertezas... Já vi esse filme...

Nunca gostei de forçar nada. Sempre amei a espontaneidade, no que tange os assuntos do coração... O que não significa deixar que "corram frouxamente". Ajo conforme a ocasião. Permito que o momento dite a hora e o local certos. Tem sido bom assim.

Frente a esse contexto espontâneo, faço com que minhas palavras ganhem força, sinceridade e segurança, e tudo acaba por sair "kokoro kara" (de coração).

*  *  *

E foi dessa maneira que tudo aconteceu pela manhã, onde o dia teve início, quente e ensolarado.

Onde um novo fruto já despontou no galho da frondosa macieira, todavia, tão verde ainda...

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Na imagem: The Son of Man, 1964 - by René Magritte.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Meditação (2) - Hayabusa






Eu peregrino
Voo por sobre as mazelas da humanidade,
Cada vez mais altaneiro...

Vou até a morada das brancas nuvens
Que elevam minha vontade,
Ao encontro de Ti, meu Sol interior!

Eu retorno guerreiro;
Minhas asas, mais fortes, batem!
Delas, sai a brisa
Que surge na Aurora.

Sombras, tremei!
Hoje é dia de caça,
E nada escapará do caçador
Que desce vertiginoso do Céu!




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Na imagem: um hayabusa (falcão peregrino). Música: "Matsuri", by Kitaro.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Meditação (1) - Nenúfar


No lodo do pântano,
Tão fértil e generoso,
Sigo desabrochando...

Nele, sorvo o alimento
Que me faz transcender
A impermanência,
Tão escura...











Na imagem: um nenúfar (flôr de lótus), símbolo da transcendência espiritual. Música: mantra Madana Mohana Murari, arranjos by Tomaz Lima (Homem de Bem).

terça-feira, 7 de abril de 2009

O Retorno



Conheci em mim:

A solidão do egoísta;
A omissão do fútil;
O vício do descontente;
A preguiça do indiferente.

Na vida, já era um morto.
Morto pela decadência moral que me assolava,
Apenas esperava por aquela hora derradeira...

"Livre estarei" - pensei.
Triste engano.
Lá, como outrora aqui estive, permaneci.

Após 5 anos,
Errante,
Envolto em trevas,
Cansado,
Chorei arrependimentos.

Abençoadas, as lágrimas lavaram-me.

Uma centelha aqueceu-me o íntimo,
Antes endurecido pelas paixões da carne.

Alguém se aproximou,
Tocou meu coração,
Meus olhos se abriram,
Enlaçou-me o Amor...

No albergue da fraternidade, cheguei.

Forças recobradas,
Tarefas edificantes,
Novas lições,
Velhas lições,
Novos planos,
Planos a retomar...
Esperanças renovadas!

Refeito, ouvi da Justiça o seu brado:

- Filho, volta e recomeça!

Na caridade que consola;
No perdão que liberta;
Na temperança que apazigua;
Na disciplina que constroi!

Chorei mais uma vez, agradecido,
Nos braços de minha mãe,

Feito uma criança...

domingo, 5 de abril de 2009

Quando chover, não corra... Cante!


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Fragmentos

Sou um amaldiçoado por Morfeu: condenado a sonhar acordado, eternamente ...


***

O Amor é a maior prova de que o tempo não existe.


***

Numa estalagem no centro do burgo, ouvi alguém regurgitar:

"Amor? Não, não... Só o corpo já nos basta!".

Lembro agora, mais uma vez, que, desde muito, o populacho abarca a idéia do romântico estar com os dias contados.

E lamento, sem lágrimas, por essa turba desesperançosa: pela frieza que suporta em seu coração e pelo futuro solitário que a aguarda...


***

Os únicos a ouvirem o revérbero das batidas deste meu coração apaixonado são os rochedos que brotam das escarpas e os grãos de areia de quartzo, no deserto que se estende imenso ao meu redor.


***

E me olho no espelho e sei quem sou porque minh’alma disse (címbalo que me desperta).

E me apercebo escrevendo na presença da melancolia, para acordar abraçado com a madrugada, molhado de sereno...