Entrou matreiro pela janela da cozinha, o sol, e descobriu em cima da pia um cubo de gelo, desolado, ensimesmado.
Cheia de piedade, a estrela quis lambê-lo e assim o fez.
O detento do frio se liquefazia agora em lágrimas mornas, copiosas, que se esparramavam sobre o mármore, indo até o piso...
Enquanto escorria lentamente, inundando frestas e imperfeições, traçava, qual hábil artista, nas superficies aonde passava, sorridentes filetes que impressionavam o mundo ao seu redor...
Molhou alguns grãos de arroz, bem como o carpete e o braço da dona de casa; misturou-se com a poeira dos cantos e com um resto de suco derramado. Também formou minúsculas poças que formigas sedentas agradeceram.
Uma parte de si desceu pelo ralo, após sequestro arquitetado pelo pano de chão com a cumplicidade da flanela...
Mas houve aquela parte cujas lágrimas cintilantes ascenderam às alturas azulíneas onde reinam soberanos os cúmulos, os nimbos e os estratos.
Nunca imaginou que um dia, algo nele voltaria a ser como a chuva numa outra estação...
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