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sábado, 4 de setembro de 2010

Toque de Midas


Alcançaram-me as últimas horas da claridade vespertina. Nesse momento, tudo o que realmente me pertence converge para uma única direção...

Surpreso, avistei, ao atravessar uma das pontes sobre a foz do Capibaribe, uma súplica do Belo ao Amor contra a frieza dos seres que se julgam humanos: o Sol em seu ocaso, ainda soberano, desmanchando a palidez tristonha da cidade.

Sua luminosidade, refletida pela superfície d'água, cintilando no movimento contínuo das marolas, inundava o interior do coletivo em que eu estava, com um dourado intenso, ofuscante.

O disco solar fazia sua estampa em minha retina, enquanto seus raios espargiam em todas as direções possíveis - e também inimagináveis.

De olhos entreabertos, enxerguei com certa dificuldade admirável transmutação ocorrer.

Como um pintor de inigualável habilidade, o astro rei derramava, gentilmente, sua palheta de cores brilhantes na tela fosca de minh'alma, e por meio de precisas e suaves pinceladas, revelava-me o ouro sideral mais puro e maciço que trazia comigo...

Levava para casa, um sorriso de luz num rosto pintado de Sol. Autorretrato de uma estrela, nunca visto por alguém. 

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Na imagem: "The Pleasure Principle (Portrait of Edward James)", 1937. By René Magritte.

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