Nas fotos, o olhar dela, sem brilho, quase nunca acompanha o sorriso forçado que lhe serve de esconderijo.
É como se ela carregasse consigo algum segredo de mentira que acabou transformando-se num fardo insustentável.
Nos seus olhos, um ainda discreto desgosto incontido marca as primeiras fissuras da realidade sobre si mesma, que revela aos poucos sua tristeza, como o despontar das primeiras sombras da noite no crepúsculo de um sábado de outono.
Vejo aquela menina deslocada no tempo e no espaço; uma verdadeira arte em preto e branco que a solidão desenhou, animou e fez mergulhar nas festas onde são fabricadas a ilusão e o esquecimento.
A garota virou um fantoche das próprias mentiras que, certamente, conta todos os dias para seu reflexo cego no espelho. Todos os dias, sem parar, pensa que o tempo não passará, apoiada numa crença de incertezas regadas com álcool e banhadas no perfume doce e nauseante da vaidade.
Ela acredita, piamente, que é apenas a soma de seus próprios erros e, com um esforço imenso, busca a corrupção de si mesma até a fraude convencê-la de sua fantasia.
Sinto que essa menina foge para os braços do vazio que traz consigo; em direção a um vácuo existencial que lhe pune por meio de uma vontade insaciável, a maneira de quem bebe, em goles fartos, a água salgada do mar...