Estava no ponto de ônibus e um senhor muito calmo aproximou-se de mim.
__Eu nem me assusto mais... __confidenciou.
__Com o quê?! __ quis saber, algo surpreso
E percebendo que a minha curiosidade não era a da mera gentileza de ouvidos moucos, respondeu sem embaraço:
__Com tantos cavalos montados nas costas de milhares de homens e mulheres! Eles os fazem galopar e trotar sem parar por sobre os asfaltos quentes das largas avenidas esburacadas e em cima dos ladrilhos irregulares das ruelas até os becos sem saída... Galopam e trotam - nunca andam - até que seus pés, mãos e joelhos feridos sangrem... É meu jovem... Esses cavalos, enquanto degustam vinho nas adegas e se deliciam com rosbifes, relegam suas montarias à poças de água da chuva e ao ruminar tedioso da grama amarga, seca e mirrada que nasce no meio-fio das calçadas... Deixam o homem para trás, amarrado em frente aos locais de trabalho, centros de compras, teatros e cinemas, preso a rédeas e mordaças, sob pesados e incômodos arreios. Durante intermináveis horas, permanece fustigado pelo Sol escaldante, atazanado pela teimosia das moscas-varejeiras... Ao voltar para casa, o cavalo rude trancafia o ser humano transformado em quadrúpede, numa baia que evoca a memória das masmorras medievais, na mais completa escuridão... Rapaz, eu te falo que o relinchar ecoa por todos os recantos desta cidade e o homem prossegue calado, fingindo não estar ali, debaixo do animal, suportando tudo, covardemente... Se me perguntares até quando... Não sei...
__Eu nem me assusto mais... __confidenciou.
__Com o quê?! __ quis saber, algo surpreso
E percebendo que a minha curiosidade não era a da mera gentileza de ouvidos moucos, respondeu sem embaraço:
__Com tantos cavalos montados nas costas de milhares de homens e mulheres! Eles os fazem galopar e trotar sem parar por sobre os asfaltos quentes das largas avenidas esburacadas e em cima dos ladrilhos irregulares das ruelas até os becos sem saída... Galopam e trotam - nunca andam - até que seus pés, mãos e joelhos feridos sangrem... É meu jovem... Esses cavalos, enquanto degustam vinho nas adegas e se deliciam com rosbifes, relegam suas montarias à poças de água da chuva e ao ruminar tedioso da grama amarga, seca e mirrada que nasce no meio-fio das calçadas... Deixam o homem para trás, amarrado em frente aos locais de trabalho, centros de compras, teatros e cinemas, preso a rédeas e mordaças, sob pesados e incômodos arreios. Durante intermináveis horas, permanece fustigado pelo Sol escaldante, atazanado pela teimosia das moscas-varejeiras... Ao voltar para casa, o cavalo rude trancafia o ser humano transformado em quadrúpede, numa baia que evoca a memória das masmorras medievais, na mais completa escuridão... Rapaz, eu te falo que o relinchar ecoa por todos os recantos desta cidade e o homem prossegue calado, fingindo não estar ali, debaixo do animal, suportando tudo, covardemente... Se me perguntares até quando... Não sei...
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