A alvorada já principiava tomar conta dos espaços. Chegava sem pressa, de braços dados com uma garoa fina que descia suavemente por sobre os traçados urbanos.
Um aroma gostoso surgia com a chuva, inebriando os sentidos... Amarras foram desfeitas e fui ao encontro dos meus sentimentos...
Ao sair de casa, ouvi os detalhes, nos edifícios e muros, cobertos de musgos e liquens, gritarem lembranças. Tudo era tão pichado de nostalgia, momentos de minha infância.
Andei em direção à praia, duas quadras de distância de onde moro.
No caminho, a umidade me revelou agradáveis sensações, enquanto atravessava uma avenida em pleno sinal vermelho. Carros não havia, nem alguém aparecia. Eu, ali sozinho, quem era? Por alguns instantes, acabei desconfiando de minha própria existência... Se eu sonhava, não sabia ao certo...
Ao passar por debaixo dum poste ainda aceso, surgi como algo distinto, luminoso. Ele, o poste, fora a única testemunha que me revelou acerca da presença etérea do meu eu por sobre as calçadas... Minha atenção voltou-se para a sua luz e enxerguei, no contraste com a penumbra que me cercava, uma miríade espetacular de gotas cintilantes caírem sobre mim.
Próximo à avenida beira-mar, pude sentir a brisa se tornar mais forte e prazerosa. Trazia o hálito salgado do oceano, espalhando suave maresia.
Tinha, agora, a mente arejada e o coração molhado de sereno.
3 vozes:
adoro ler vc!!!!
Eu realmente desejo que esses instantes silenciosos retornem... E eles voltarão. Não da mesma forma, é claro.
Você descreveu esse momento da forma que ele foi: lindo!
Beijo na alma.
...gostaria de estar em teu lugar durante essa noite..de sentir a presença da natureza em meio a esta selva de pedra q nos rodeia todos os dias...
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