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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Doce Demais...

A horda em miniatura, furtivamente, lançara-se delirante até o objeto de seu prazer.

Peguei-a desprevenida, embriagada, bebericando com avidez, cada gota daquilo que, para elas, deveria ser algo semelhante ao néctar dos deuses.

Na verdade, a doçura não passava de sacarose... Entretanto, nelas, as formigas, não havia qualquer sinal de discernimento quanto a isso.

E lá estavam, num total alheamento, em meu refresco de maracujá, às centenas!

Sobre o espólio adocicado, a turba manifestava franca algazarra, não sobrando empurrões e cotoveladas. Ali, deram adeus a toda disciplina e organização que as caracterizam com freqüência, no âmbito da Entomologia, como sendo uma “sociedade”.

Impressionado, vi dezenas flutuando, sem vida, na superfície do suco e muitas outras se afogando.

Mais de perto, constatei a causa mortis: insatisfação crônica. Sim, não se satisfizeram com que já haviam bebido. Quiseram mais e mais e mais! Abdomens pesados, que estavam repletos daquele mel, fizeram-nas tombar em direção à morte - ao que antes lhes sustentou o fascínio e o prazer excessivo...

Se falassem, diriam certamente que a culpa daquele morticínio era da gravidade, ou do copo que era liso demais, ou da química do açúcar, ou ainda da acidez do maracujá, ou dum “infeliz” que colocou o resto de suco naquele local de propósito.

Hora de acabar com o espetáculo.

Dei, sem aviso, algumas leves batidas no copo e dispersei os minúsculos vândalos sobreviventes. Mostrei para elas quem mandava ali...

Se falassem, diriam que os deuses estavam furiosos e que seriam punidas severamente com tempos de chuva torrencial ou estiagem total!

A tropa liliputiana finalmente debandava apavorada, de volta ao seu reduto.

Levantei-me.

Fui à copa.

Lavei o copo.

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Na imagem: Moebius Strip II, 1963 - M. C. Escher.

1 vozes:

Anônimo disse...

Me diverti lendo isso.
"Mais de perto, constatei a causa mortis: insatisfação. Sim, não se satisfizeram com que já haviam se alimentado. Quiseram mais e mais e mais... Abdomens que estavam repletos daquele mel, fizeram-nas tombar em direção à morte - ao que antes lhes sustentou o fascínio e o prazer excessivo..."

Acho que é assim com os seres humanos também, só que não necessariamente com comida. Não podemos usar algo de forma exacerbada, é preciso um equilíbrio.

Beijo na alma.

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