Assim como a humildade, a prudência é uma virtude muito apreciada pelos povos do extremo oriente.
A imagem de uma velha raposa atravessando cautelosamente um lago congelado é proverbial. Com os ouvidos atentos, o animal responde a qualquer estalo de gelo partindo-se, ao mesmo tempo que procura os pontos mais seguros para trilhar.
Por outro lado, a sabedoria oriental também nos diz que uma raposa jovem e imatura representa o agir imprudente de alguém. Ao lançar-se de modo audacioso na travessia, ela estaria sob o sério risco de cair n'água gelada, a poucos metros da margem oposta, ameaçada de perder todo o esforço empreendido.
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Escrevo estas linhas, no intuito de deixar vívido, na minha memória, o cultivo da prudência nesses dias apressados, repletos de intranqüilidade, em que vivemos. Prudência nos atos, nas palavras e, principalmente, nos pensamentos (que comumente criam a escravidão ou a liberdade da alma).
Quinta-feira passada, vivenciei no trabalho uma situação que me deixou com "cara e focinho de jovem raposa". O desafio que enfrentei foi algo difícil e longo. Não cabe descrevê-lo neste espaço, seria enfadonho. Apenas digo que passei por uma verdadeira prova de resistência (na paciência)! Tudo transcorria bem, até que nos últimos instantes, "pisei" onde não devia e tomei aquele banho d'água gelada...
Não houve danos materiais, tão pouco terceiros foram prejudicados. Existiu sim um vacilo moral de minha parte que, de certa maneira, "maculou" o resultado da atividade realizada por mim. Tirou-me a graça da boa ação.
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Olhando, agora, para a foto acima, curioso como a pelagem branca do animal não me evoca qualquer idéia de paz ou pureza espiritual. A leitura que faço é aquela na qual essa cor nos remete a um dos emblemas da ignorância: à maneira de algumas folhas de papel em branco, trazendo apenas a promessa de tudo nelas ser escrito...
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Na imagem: uma
raposa-do-ártico (
Alopex lagopus), também chamada de "raposa polar".